Lua Cheia, uivos…


The full moon 12th June 2006
Originally uploaded by aaardvaark

Ele é jovem, não deve ter trinta. É belo, firme, um abraço que abre portas para a alegria. As carnes se agitam enquanto a atenção se concentra no trabalho.
Nos intervalos, as descobertas…
Bom de papo, sedutor. (Já vi este filme). É comprido, do jeito que ela gosta. Firme e forte, da forma que espera. Tem jeito de gato solto no salão. Precisa de ponto de energia pra funcionar. Faz malabarismo, gosta de carro e tem aquele jeito extrovertido de quem sabe o que quer da vida. Intenções claras, claríssimas.
Ela desce a ladeira no ar frio, embalada por uma música que a deixa feliz. De novo feliz! Abraços e sorrisos de um homem comprido e belo.
Um abre seu caminho no mundo.
Outra recebe o mundo em si, de novo grávida em meio ao sangue.

amei

quatro letrinhas sórdidas enfileiradas como um feitiço
tramadas por imagens belas e frases vazias
(escrevo com os olhos bem fechados)
entre o álcool e o ser e o abismo
entre o ser e o abismo, um éter
jogo, jugo,
tudo vaga
nuvens algodoadas num céu de quase-primavera
e a noite quente, quente,
embala o desejo desvairado, desavisado, livre, impávido e colossal
flores, cores, flores
tum-tum-tum-tum
(tô bêbada…)

Questions

Arranquei meu coração do peito e agora sofro?
Por que preciso ser tão dura comigo mesma?
Where do I wanna go?
Straight, straight, straight
We march to death’s arms.

Escapes – dreamscapes


Muita intensidade cá dentro. Nada lá fora para dar limite.
Pelos poros sai a vontade do encontro – que não vem.
Pela frente, o imenso azul. A bordo, um mar de histórias, feito de muitos fios que se entrelaçam. E a sensação de “quase” colocar o carro à frente dos bois.
Sou um grão de mostarda. Uma gota misturada à multidão de gotas
Sou a busca – o nariz que fareja, a mão estendida, o olho que vaga
Até que encontre o cheiro, uma outra mão, um olhar…
Mulher feita de nós, em busca de novos nós.
E lá está a praça coberta de corações à espera dos apaixonados

A morte

Mais um deixa o convívio. Aliás, uma. Tia meio distante, com quem tive pouco contato. Mas sou fã dos primos (também distantes, também pouco contato). Enfins, coisas que fazem parte da vida. O enterro acontece amanhã cedo, em Santos. Não faz dois anos enterramos o marido dela, meu tio, no mesmo cemitério. Até têm um certo encanto as histórias de casais que não sobrevivem à morte. Chamam à cena o velho amor romântico, que já morreu – mas ainda não foi enterrado.
Este aqui é pra dizer do sentimento de ver carne virar só carne mesmo. Não mais Marilena, não mais tia. De ficar ao lado de um quase desconhecido, com quem tenho um laço de sangue, e ver ele se emocionar e quase se deixar tomar pela perda – até as tias chegarem perto e ele perder a tenue aliança que estávamos construindo à beira da mesa de aço. De ver a tia – que era mulher linda, que envelheceu bem – amarelo cera, rosto e mãos tão inchados, pura carne após a morte por câncer.
A meu lado, a dor da minha mãe – eu imagino, pela amiga, pela contra-parente, pela família que já não é mais dela. Coisas do contemporâneo: a minha mãe não faz mais parte daquela família.
Ver pulsos e impulsos nos vivos da família – as hesitações, a espera sem velório, não saber o que fazer sem o ritual, as primas, o primo que agora ficou órfão de pai e mãe. Lembrei do tio, em outra mesa de aço. Amanhã a esta hora, os dois peregrinos vão estar de novo lado a lado.