Este blog foi feito pra isso mesmo: registrar mapas e momentos de vida. Tratar depressão é chato e dolorido, fiquem sabendo vocês meus seis ilustres leitores (sim, eu comecei a olhar as estatísticas de novo).
Primeiro: é um saco acertar a dosagem do remédio. Segundo: a terapia anda por lugares fundos e doloridos. Tenho me sentido pior que a mosca do cocô do cavalo do bandido… mesmo. Não dá vontade de ver ninguém, de encontrar ninguém – e eu preciso conquistar o mundo se quiser sair desta. Que tal este dilema? Tá bom?
Então. Aí o trem é o seguinte: há um desbalanceamento químico. É fato. Mas o psiquiatra sabiamente se recusa a amortecer as dores do crescimento. No que, cá entre nós, eu concordo – afinal, será que sem elas o crescimento viria?
No último mês (desde o dia 17 de maio, para ser muito exata) tomei várias traulitadas bem dadas da vida. Sabem aqueles momentos-chave em que você sabe que se não mudar, f****? Pois é. Começou no grupo de estudo de anatomia emocional, em que a minha solidão foi apontada – e dissecada – de forma clara. Passei dias em transe. Do meio do transe me sai o que senti:
Quinta-feira, 21 de Maio de 2009
vergonha… sustentar… raiva… descoberta…
vergonha… atravessar o ritmo do campo corpante que vocês passaram o fim de semana construindo. Deixar a minha eletricidade invadir o campo…
sustentar a escuta… poder receber de alguma forma o feedback do grupo…
raiva… um gosto de “como assim, você não fez o grupo com a gente?” auto-raiva define melhor
descoberta… solidão eterna que parece cármica, mas é construída nos tecidos, nas conexões. Dar muito e receber pouco. Impossibilidade de me permitir uma nova forma? Uma certa repetição de um modelo que não gosto, do meu pai, que seduz e abandona, seduz e abandona, seduz e abandona…
Processo em andamento…
E a terapia comendo solta… Dá-lhe lembrar o que falta. Este contato íntimo comigo mesma é belo, embora dolorido. De uma concretude absoluta. Aprendo onde está a falta de limite, que não permito encaixes (o que limita minha expansão no mundo). Como funciona a cabeça produtiva… Duro é conter e sustentar aqui dentro toda a história que me trouxe até este exato lugar. Dói. E o psiquiatra não vai aliviar a minha barra…
Ao mesmo tempo, em paralelo, preciso criar estrutura para crescer, estar no mundo, fazer mais negócios, dar conta do trabalho. E cadê o foco? Cadê a Lucia que sabia fazer três coisas ao mesmo tempo? Onde foi parar meu bom humor? Mau humorada, irritada, chorona. Me isolo – e xingo a solidão. Ao mesmo tempo a vida está clara demais para que eu possa recuar. É preciso lutar – mais, lutar para vencer.
Enquanto isso o apetite desaparece. Comer sem vontade – só com a fome “orgânica” – é horrível, sabem? E até quem está longe vê – porque eu sei, é impossível esconder o que acontece de outros seres humanos. Mesmo que não consigam dar nome, eles vêem e sabem.
Por enquanto é só. Depois eu volto a registrar mais aqui. Back to work!