Deu meu coração …

gift from lina
Música de Rubi, do Álbum Infinito Portátil

Deu meu coração

De ficar dolorido

Arrasado num profundo pranto

Deu meu coração de falar esperanto

Na esperança de ser compreendido

Deu meu coração equivocado

Deu de desbotar o colorido

Deu de sentir-se apagado, desiluminado, desacontecido

Deu meu coração de ficar abatido

De bater sem sentido

Meu coração surrado.

Deu de arrancar o curativo, deu de cutucar o machucado.

Deu de inventar palavras, pra curar de significado

O escuro aço denso do silêncio

No coração trespassado.

O que ninguém conta sobre o tratamento da depressão – e seus meandros – é a necessidade de ter paciência. Já dizia uma amiga: paciência é a ciência da paz. O horóscopo jura que a minha irritação e mau humor é por conta de um trânsito qualquer lá em cima. Duvido. É mudança de remédio, acerto de dosagem, gosto ruim na boca. Do escuro silêncio do coração trespassado, brota música.

A paisagem humana pede confiança – no psiquiatra, no terapeuta, no(s) remédio(s). Pede suportar os efeitos colaterais – do intestino que fica lerdo ao gosto horrível na boca. Pede agüentar com todo brio e elegância a angústia, a falta, as dores. Pede ir ao mundo e saber se conectar melhor com outros seres humanos e ambientes…

E confiança pede descanso em mim. Estou exausta.