A morte bate à porta

Ela sempre está junto de nós, em construção.
Na sua presença, solenes,
Tocamos réquiens, cantamos mantras.
Fazemos sinais, rezamos, contamos da vida
Reunidos ao redor do caixão estão os queridos
De quem foi e de quem fica
Momento solene, cheio de mistério
Vem com luta ou abandono.
De nós, para nós, por nós
A dizer que o universo é assim
Cheio de fluxos, ires e vires
que, no final, contam e cantam uma vida

Para Jandyra e Cláudia, que cuidaram de homens queridos

Gong Show (ou que planeta é esse?)

Quando tinha meus 18 anos ia dançar num lugar chamado Rose Bom Bom. Gente bacana, moderna, cheia de projetos e esperança na vida.
Ontem, fui conhecer a nova versão do velho Rose. Instalado no topo da Galeria Ouro Fino, na Augusta, o lugar parecia legal. Ai, ai, ai. Deu medo. O som é bom, tem um terracinho apertadinho pra tanta gente, mas que garante um respiro… duro é enfrentar o povo que circula pelo piso preto-e-branco!
Pra começar, o povo bonito dos Jardins é mal educado. Quando o lugar enche vira empurra-empurra e salve-se quem puder. Tome cuidado pra não ser engolida no rolo compressor do vai-e-vem – ninguém pede licença nem dá passagem. Pra completar, aquela gente bonita está com sérios problemas: esqueceu o que é se divertir. Todos jogam pra platéia…
Os homens, então, pareciam uns pastéis – sem recheio e encharcados de óleo (argh). Não dançam, não sorriem, não têm cantadas interessantes. Conversa inteligente? Procure em outro lugar, não nos Jardins. Parece que se acham os reis da cocada preta só porque são homens. Ficam esperando a mulherada cair matando, vê se pode! Tem tanto homem nesse mundo, muitos tão especiais… Quem eles acham que são?
As moças estão lá e a maioria cumpre o seu papel. Faz o jogo dos negos, tudo em troca de um chamego – que não acontece. Encheu – o meu saco. Gong, gong, gong.

Anatômicos

A gente se encontra toda quarta. Um grupo de umas vinte pessoas, ligados há dois anos por uma leitura. Dividimos intimidades humanas, que são tão tocantes quanto indescritíveis. Um grupo num oceano de grupos (não muito grande, quase um laguinho num parque), que segue fazendo projetos, dividindo alegrias, angústias, conquistas. Gente querida, querida, querida.
Um grupo que desenha e é desenhado, como aquele lindo desenho do Escher. Que até copiei, mas não sei se quero publicar nessa entrada.
Encontrar esse grupo-mar, pra mim, é como estar no paraíso. Me dá forças pra seguir em frente, me faz sentir parte da humanidade. O melhor é que posso ser eu mesma… isso não tem dinheiro que pague.
A melhor imagem, que não tenho no computador é de uma dança circular: tem muita gente, tem sintonia e todos podem fazer seus passos.

Como a gente se arranja nessa vida?

As ligações, as relações, os afetos.
Como dá conta dos tremores, dos humores, das irritações?
É tanta coisa – Tudo ao mesmo tempo agora. A coluna por levantar, os assessores que não assessoram, o texto que se quer poesia e vira pó, o amor que partiu e deixou luto, a morte que vira cinza e me espera no crematório da vila Alpina…
dava pra continuar até o infinito. Acabo de descobrir que em abril será possível observar Saturno e Plutão bem de pertinho. Imagino como parecem, ao vivo, os anéis do senhor do tempo. Que rosto tem Plutão através das lentes?

Posted by Hello