Ah, o amor

Por Marly de Oliveira, amiga de Clarice Lispector, em O Sangue nas Veias

Uma gema que fosse toda fria,
mas na aparência, e toda quente por dentro
e que tivesse a lisa superfície
do que se usa com grande atrevimento,
mas no íntimo; uma gema toda calma,
quase uma água esse fogo nos doendo,
um silêncio que fosse uma cascata,
mas do que o próprio fogo fosse o centro
e de que o próprio fogo fosse água.
Assim o amor, assim o que se espalha
e não se entorna, e vive do que vive,
e é móvel e capaz de ter limite;
assim o que se adestra e se dilata
como o sangue na veia, e é todo livre.

waiting, watching, waiting

Achei no Blog em Linha Reta, através da minha Alice cheia de voltas, um texto que me diz, me canta, me inspira.
Tenho milhões de coisas ingratas pra fazer mas estou aqui, exatamente aqui — onde podes me ver sentado, olhando pro horizonte e enxergando algo dentro de mim mesmo.
Não sei se te espero, ou se é só inércia.
Nem sei quê faço aqui, se é que faço.
Existisse uma cadeira de balanço, seríamos só eu e o balanço.
Não existisse balanço — como não existe sorriso teu — seria só eu, e o sou.
Nem feliz, nem infeliz, fico observando o vento — e nele não voa tua voz.

deeper and deeper


sunset deeper and deeper
Originally uploaded by Lucia Freitas.

Entre duas notas de música existe uma nota
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por
mais juntos que
estejam
existe um intervalo de espaço
existe um sentir que é entre o sentir
– nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e jogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio

Clarice Lispector