Encontros

Cruzamentos de mundos, encruzilhadas sonoras.
Gostos, histórias, carreiras, vidas. Eu te conto a minha, você traceja a tua. Vamos trocando, paripassu, um dá, outro recolhe. Um dá outro, recolhe. O descompasso se insinua invisível: aos poucos, um dá mais que outro. A princípio nem se nota a diferença – é milimétrica. Com o tempo, senhor dos processos, abismos se abrem. Ninguém percebe…
Numa tempestade, arma-se um rompimento. Uma se marca pela insegurança, transfigura-se em muitas. Outro se fecha em copas. Conexões interrompidas. Igualdade restaurada? Qual nada. Perdem-se. Passam.
Volta a pergunta: o amor é um mal? Talvez não. Mas vejo os destroços enquanto arrumamos mais uma mudança. Companheiras antigas, ventanias verdes, hoje igualadas nas cores, refletimos.
Nos sabemos belas, desejantes, plurais e solitárias. Penélopes+Ulisses, guerreiras suaves. Acompanhadas pelos nossos irmãos, pais, mães, filhos, amigos. Revemos, olhos baixos e cabeça erguida. Cansadas, exaustas, exauridas. Já demos tanto, tanto, tanto. Para mais uma ver ver interrompidos sonhos. Mais um filme com final previsto.
Mesmo assim brilha, no final da escuridão, o lampejo da esperança, esta velha companheira. São teimosias, persisitências e buscas muito maiores e mais fortes.
Nem sempre é glorioso. Em geral, é bem humilde. Seguimos.

viver a leveza

Dias azuis sob o envoltório cinza, eterno em Sampa, pedem olhos bem abertos, conexões firmes, escolhas claras. O coração leve vai encontrando diamantes e o rosa se multiplica nas flores, tantas, que marcam este inverno.
Um homem maravilhoso, Allure, um belo restô, o sol… o vinho abre o coração e faz cantar “Sobe, Sobe, Sobe”. Velhas giras, muito velhas. As lembranças já não existem nem tremulam. Poeira cósmica, me deixam voltar ao estado inicial. Em busca_atenta_madura. Na minha janela as tardes cheiram Clarice e Zappa. Nos meus olhos, apenas o róseo, o bom, o belo. A cidade mais calma passeia em mim, multiplica os caminhos. Do plano digital apenas paz, sossego, amizade e carinho.

a viagem da mala sem alça – para o além

Eu queria me divertir – sexo, risada, boa conversa – e só.
Ele inventou de complicar – muito. Começou manso, com a velha sedução (deliciosa) de que os homens são capazes. Adoro ser seduzida, confesso.
A coisa estava boa, me deixei levar. Afinal, quem não gosta de ser bajulada, paparicada, ganhar montes de presentinhos, conversar com homem inteligente, pensante, que gosta das mesmas coisas que você? TODO MUNDO GOSTA!
Venci as reservas, deixei de lado a cautela e entrei de cabeça. Dei com o coco num embroglio horroroso: um homem indeciso, fraco, mentiroso. Nada verdadeiro. Que inventa mil histórias (dignas de boa ficção científica) para tentar não enfrentar decisões… Pena que não vi antes. Fiquei dois meses sentindo saudades das manhãs boas, dos papos no balcão da padaria, das conversas, de dormir de conchinha e da montanha de gentilezas. Tsc, tsc, tsc.
Meu amigo Zé Alencar, recentemente falecido, sempre disse: entre um burro e um canalha não passa o fio de uma navalha. Sempre tive este ditado em alta consideração – além de outras liçõezinhas impagáveis que ele deixou. Pois é. Agora descobri uma nova dimensão no ditado: a burrice pode não ser apenas intelectual (que sempre me chama a atenção), mas emocional. E gente burra emocionalmente é tão canalha quanto os outros.
Sou a favor de encontros. Sou pró-liberdade. Sou a favor de respeito. A pena que me dá é que eu admirava este homem – quase tirei do ar o post em que falava dele, no dia 16 de fevereiro. Não vou fazer isso, não. Vou me respeitar – já que ele não foi capaz – e manter tudo o que senti vivo.
Sem esta mala sem alça, carregada de pedras, a vida deslanchou. Ontem o dia foi difícil, mas bom. Hoje o dia foi melhor. E, tenho certeza, já já aparece alguém que me toque o coração de novo.
Ah, canalhas também são ótimos professores. Nos ensinam direitinho como consertar corações partidos e seguir em frente. Adorei a viagem. Já estou planejando a próxima. Algum candidato?

Perdoa a tua igreja, senhor. Ela não sabe o que faz

Esclareço que fui criada católica e, nos últimos anos, desenvolvi uma particularidade enorme: vou à igreja quando me dá na telha para rezar do meu jeito. Não suporto o papa e me declarei auto-excomungada no instante em que ele foi anunciado. Me vejo em várias saias justas por conta desta história. Eu me considero cristã, – num sentido que não pertence à nenhuma religião estabelecida, mas como seguidora do Cristo, mesmo – cuja história me inspira e me guia desde pequena.
Por essas e outras, fazia muito tempo que não ia à igreja. Hoje compareci à missa de sétimo dia de um conhecido. Cheguei cedo, rezei o terço junto com o povo antes da missa – feliz e contente, registro. Tive vários insights, me emocionei, lembrei da minha avó Esther (que adorava aquela igreja), perdoei um ser humano que andou brincando com o meu coração.
Fiquei bem.
O negócio pegou no instante em que o folheto falou mal dos judeus e piorou quando no sermão o padre disse que os outros cristãos não são cristãos de verdade. Dei o troco na reza seguinte. Em vez de dizer revive a tua igreja, senhor, pedi em voz bem alta: perdoa a tua igreja, senhor. Aproveitei e reforcei a distribuição de perdão – principalmente praquele cara que deixou o meu coração partido. Sabe que parece que consertou?