Sueli Antonia, minha amiga eterna

Campus Blog Team
(Sueli é esta moça no meio da foto, em nossa jornada durante a Campus Party 2007)

Corria o ano de 1995, se não me engano. Numa vila muito especial, no coração da Aclimação, havia uma festa junina organizada por vizinhos, com direito a fogueira, quentão e vinho quente. Recém-separada, com o coração aos pedaços, sem querer cantei um moço casado. E sua mulher, do alto do seu metro e meio, me avisou: “Este é meu, tá?”.
Tempos depois, trabalhamos juntas. Acompanhei as filhas lindas crescerem, a família ganhar cachorro. Vi esta linda mulher de metro e meio se tornar minha grande amiga. Uma amiga que dispensa telefonemas constantes, que adora tomar chá junto, que teve a coragem de parar de fumar, de se separar, de arriscar.
Eu sou testemunha de alguns muitos anos da Sueli. Do cabelo vermelho e comprido, dos muitos cortes, da chegada dos cabelos brancos, da descoberta do milagre da dermatologia moderna. Compartilhamos conquistas profissionais juntas – sem ela, tenho certeza que não teria feito muito do que consegui em nosso trabalho comunitário. Meu sonho de consumo, há dez anos, já, é ter dinheiro para lhe pagar um bom salário e trazê-la para junto de mim novamente…
Sueli, minha amiga querida, faz cinqüenta anos. Eu a vi completar os quarenta e aprendi com ela, ao vivo e a cores, como ignorar números e ser feliz. Dela ganhei duas queridas, as suas filhotas – tá, Maira, aposto que você continua uma chatonilda, mas eu gosto de você assim mesmo.
Sua voz doce, seu jeito único e suas indecisões completam meu jeito duro, estabanado e decidido. E tudo o que posso escrever, nesta véspera do seu aniversário é:
EU TE AMO AMIGA.
Você merece o melhor, sempre
Você é uma mulher maravilhosa
Desejo que a vida seja doce, mansa e repleta de conquistas. A gente sabe que na verdade ela é dura, exige coragem e luta. E do meio de desejos e realidades surge nosso sonho conjunto:
um par de casinhas à beira mar, com dois terraços quase se tocando, redes de cara para o pôr-do-sol e duas comadres a dizer: passei um café! Acabei de tirar um bolo do forno!
Lá vamos nós, rumo ao futuro e aos nossos sonhos.
Tudo de bom procê, Sueli!

Caixa de Pandora está aberta

O mal estar começou onde eu menos esperava: num grupo da Regina. Em sete anos, este sempre foi o lugar seguro, onde pude experimentar de tudo. Há dez dias, a caixa de pandora está aberta. Além de ter que reconstruir a história visual da minha vida, preciso, sem dúvida, mergulhar nos 9 anos de crescimento mais dolorosos, há tanto enterrados.

Não, não vou publicar aqui a trajetória. Este micro-post é um lembrete para mim mesma: não abra a sua boca, nem imagine, nem espere que a cura venha fácil e simplesmente. Dá trabalho, muito trabalho. E não há pílula milagrosa que substitua isso. Ainda bem. Assim que o céu clarear eu volto para contar o que havia dentro da caixa.

Momento de tristeza e decisão

light stacks

O mal estar, que parecia um bode preto amarrado na cadeira, acaba de evaporar. Tomei decisões, durante a sessão de terapia de hoje que me fizeram ficar mais tranqüila e a vida, de repente, ganhou luz…

Como nem tudo são flores – ainda – há também uma má notícia: a minha querida PP perdeu seu companheirão de anos e anos, o Bob. Hoje, aos 19 anos ele foi correr e brincar com a Charlote e os furões da Zel – e todos os outros animais que se ligam aos humanos para cuidá-los e mimá-los. Eu sei que PP tá sofrida, embora seja mulher forte e de garra. E, infelizmente não tenho nenhuma foto de mister Babu por aqui.

Junto com a luz, o luto. Com o luto, a libertação da luz. Que a Mãe tome conta de todos nós.

Deu meu coração …

gift from lina
Música de Rubi, do Álbum Infinito Portátil

Deu meu coração

De ficar dolorido

Arrasado num profundo pranto

Deu meu coração de falar esperanto

Na esperança de ser compreendido

Deu meu coração equivocado

Deu de desbotar o colorido

Deu de sentir-se apagado, desiluminado, desacontecido

Deu meu coração de ficar abatido

De bater sem sentido

Meu coração surrado.

Deu de arrancar o curativo, deu de cutucar o machucado.

Deu de inventar palavras, pra curar de significado

O escuro aço denso do silêncio

No coração trespassado.

O que ninguém conta sobre o tratamento da depressão – e seus meandros – é a necessidade de ter paciência. Já dizia uma amiga: paciência é a ciência da paz. O horóscopo jura que a minha irritação e mau humor é por conta de um trânsito qualquer lá em cima. Duvido. É mudança de remédio, acerto de dosagem, gosto ruim na boca. Do escuro silêncio do coração trespassado, brota música.

A paisagem humana pede confiança – no psiquiatra, no terapeuta, no(s) remédio(s). Pede suportar os efeitos colaterais – do intestino que fica lerdo ao gosto horrível na boca. Pede agüentar com todo brio e elegância a angústia, a falta, as dores. Pede ir ao mundo e saber se conectar melhor com outros seres humanos e ambientes…

E confiança pede descanso em mim. Estou exausta.

Mapinha para lembrar um momento

cacos de cores
Este blog foi feito pra isso mesmo: registrar mapas e momentos de vida. Tratar depressão é chato e dolorido, fiquem sabendo vocês meus seis ilustres leitores (sim, eu comecei a olhar as estatísticas de novo).
Primeiro: é um saco acertar a dosagem do remédio. Segundo: a terapia anda por lugares fundos e doloridos. Tenho me sentido pior que a mosca do cocô do cavalo do bandido… mesmo. Não dá vontade de ver ninguém, de encontrar ninguém – e eu preciso conquistar o mundo se quiser sair desta. Que tal este dilema? Tá bom?

Então. Aí o trem é o seguinte: há um desbalanceamento químico. É fato. Mas o psiquiatra sabiamente se recusa a amortecer as dores do crescimento. No que, cá entre nós, eu concordo – afinal, será que sem elas o crescimento viria?

No último mês (desde o dia 17 de maio, para ser muito exata) tomei várias traulitadas bem dadas da vida. Sabem aqueles momentos-chave em que você sabe que se não mudar, f****? Pois é. Começou no grupo de estudo de anatomia emocional, em que a minha solidão foi apontada – e dissecada – de forma clara. Passei dias em transe. Do meio do transe me sai o que senti:

Quinta-feira, 21 de Maio de 2009

vergonha… sustentar… raiva… descoberta…

vergonha… atravessar o ritmo do campo corpante que vocês passaram o fim de semana construindo. Deixar a minha eletricidade invadir o campo…

sustentar a escuta… poder receber de alguma forma o feedback do grupo…

raiva… um gosto de “como assim, você não fez o grupo com a gente?” auto-raiva define melhor

descoberta… solidão eterna que parece cármica, mas é construída nos tecidos, nas conexões. Dar muito e receber pouco. Impossibilidade de me permitir uma nova forma? Uma certa repetição de um modelo que não gosto, do meu pai, que seduz e abandona, seduz e abandona, seduz e abandona…

Processo em andamento…

E a terapia comendo solta… Dá-lhe lembrar o que falta. Este contato íntimo comigo mesma é belo, embora dolorido. De uma concretude absoluta. Aprendo onde está a falta de limite, que não permito encaixes (o que limita minha expansão no mundo). Como funciona a cabeça produtiva… Duro é conter e sustentar aqui dentro toda a história que me trouxe até este exato lugar. Dói. E o psiquiatra não vai aliviar a minha barra…

Ao mesmo tempo, em paralelo, preciso criar estrutura para crescer, estar no mundo, fazer mais negócios, dar conta do trabalho. E cadê o foco? Cadê a Lucia que sabia fazer três coisas ao mesmo tempo? Onde foi parar meu bom humor? Mau humorada, irritada, chorona. Me isolo – e xingo a solidão. Ao mesmo tempo a vida está clara demais para que eu possa recuar. É preciso lutar – mais, lutar para vencer.

Enquanto isso o apetite desaparece. Comer sem vontade – só com a fome “orgânica” – é horrível, sabem? E até quem está longe vê – porque eu sei, é impossível esconder o que acontece de outros seres humanos. Mesmo que não consigam dar nome, eles vêem e sabem.

Por enquanto é só. Depois eu volto a registrar mais aqui. Back to work!