Depois do desgosto, o amor


Desgostosa com memórias e sensações dolorosas, me deixei levar ao fundo por elas. O ouriço tomou conta da minha pele. Vontade de eletrocutar-matar-eliminar todos os que me cercam.
Quase detonei projeto importante e bem-sucedido na onda do desgosto. E, graças ao amor das amigas mais queridas e próximas (apesar dos milhares de quilômetros) reencontrei a compaixão.
Reconhecida, amada, acolhida, pude ser humilde e pedir perdão. E do perdão veio mais acolhimento e amor.
Isso sim é um ciclo virtuoso.
Obrigada dupla dinâmica querida.

foto; Big Heart of Art – 1000 Visual Mashups, por qthomasbower, em  CC

Sueli Antonia, minha amiga eterna

Campus Blog Team
(Sueli é esta moça no meio da foto, em nossa jornada durante a Campus Party 2007)

Corria o ano de 1995, se não me engano. Numa vila muito especial, no coração da Aclimação, havia uma festa junina organizada por vizinhos, com direito a fogueira, quentão e vinho quente. Recém-separada, com o coração aos pedaços, sem querer cantei um moço casado. E sua mulher, do alto do seu metro e meio, me avisou: “Este é meu, tá?”.
Tempos depois, trabalhamos juntas. Acompanhei as filhas lindas crescerem, a família ganhar cachorro. Vi esta linda mulher de metro e meio se tornar minha grande amiga. Uma amiga que dispensa telefonemas constantes, que adora tomar chá junto, que teve a coragem de parar de fumar, de se separar, de arriscar.
Eu sou testemunha de alguns muitos anos da Sueli. Do cabelo vermelho e comprido, dos muitos cortes, da chegada dos cabelos brancos, da descoberta do milagre da dermatologia moderna. Compartilhamos conquistas profissionais juntas – sem ela, tenho certeza que não teria feito muito do que consegui em nosso trabalho comunitário. Meu sonho de consumo, há dez anos, já, é ter dinheiro para lhe pagar um bom salário e trazê-la para junto de mim novamente…
Sueli, minha amiga querida, faz cinqüenta anos. Eu a vi completar os quarenta e aprendi com ela, ao vivo e a cores, como ignorar números e ser feliz. Dela ganhei duas queridas, as suas filhotas – tá, Maira, aposto que você continua uma chatonilda, mas eu gosto de você assim mesmo.
Sua voz doce, seu jeito único e suas indecisões completam meu jeito duro, estabanado e decidido. E tudo o que posso escrever, nesta véspera do seu aniversário é:
EU TE AMO AMIGA.
Você merece o melhor, sempre
Você é uma mulher maravilhosa
Desejo que a vida seja doce, mansa e repleta de conquistas. A gente sabe que na verdade ela é dura, exige coragem e luta. E do meio de desejos e realidades surge nosso sonho conjunto:
um par de casinhas à beira mar, com dois terraços quase se tocando, redes de cara para o pôr-do-sol e duas comadres a dizer: passei um café! Acabei de tirar um bolo do forno!
Lá vamos nós, rumo ao futuro e aos nossos sonhos.
Tudo de bom procê, Sueli!

Caixa de Pandora está aberta

O mal estar começou onde eu menos esperava: num grupo da Regina. Em sete anos, este sempre foi o lugar seguro, onde pude experimentar de tudo. Há dez dias, a caixa de pandora está aberta. Além de ter que reconstruir a história visual da minha vida, preciso, sem dúvida, mergulhar nos 9 anos de crescimento mais dolorosos, há tanto enterrados.

Não, não vou publicar aqui a trajetória. Este micro-post é um lembrete para mim mesma: não abra a sua boca, nem imagine, nem espere que a cura venha fácil e simplesmente. Dá trabalho, muito trabalho. E não há pílula milagrosa que substitua isso. Ainda bem. Assim que o céu clarear eu volto para contar o que havia dentro da caixa.

Momento de tristeza e decisão

light stacks

O mal estar, que parecia um bode preto amarrado na cadeira, acaba de evaporar. Tomei decisões, durante a sessão de terapia de hoje que me fizeram ficar mais tranqüila e a vida, de repente, ganhou luz…

Como nem tudo são flores – ainda – há também uma má notícia: a minha querida PP perdeu seu companheirão de anos e anos, o Bob. Hoje, aos 19 anos ele foi correr e brincar com a Charlote e os furões da Zel – e todos os outros animais que se ligam aos humanos para cuidá-los e mimá-los. Eu sei que PP tá sofrida, embora seja mulher forte e de garra. E, infelizmente não tenho nenhuma foto de mister Babu por aqui.

Junto com a luz, o luto. Com o luto, a libertação da luz. Que a Mãe tome conta de todos nós.

Deu meu coração …

gift from lina
Música de Rubi, do Álbum Infinito Portátil

Deu meu coração

De ficar dolorido

Arrasado num profundo pranto

Deu meu coração de falar esperanto

Na esperança de ser compreendido

Deu meu coração equivocado

Deu de desbotar o colorido

Deu de sentir-se apagado, desiluminado, desacontecido

Deu meu coração de ficar abatido

De bater sem sentido

Meu coração surrado.

Deu de arrancar o curativo, deu de cutucar o machucado.

Deu de inventar palavras, pra curar de significado

O escuro aço denso do silêncio

No coração trespassado.

O que ninguém conta sobre o tratamento da depressão – e seus meandros – é a necessidade de ter paciência. Já dizia uma amiga: paciência é a ciência da paz. O horóscopo jura que a minha irritação e mau humor é por conta de um trânsito qualquer lá em cima. Duvido. É mudança de remédio, acerto de dosagem, gosto ruim na boca. Do escuro silêncio do coração trespassado, brota música.

A paisagem humana pede confiança – no psiquiatra, no terapeuta, no(s) remédio(s). Pede suportar os efeitos colaterais – do intestino que fica lerdo ao gosto horrível na boca. Pede agüentar com todo brio e elegância a angústia, a falta, as dores. Pede ir ao mundo e saber se conectar melhor com outros seres humanos e ambientes…

E confiança pede descanso em mim. Estou exausta.