Rascunho

Carta a dois namorados

Soube que vocês andam a se desentender. A cada fim de semana, feriado, folga, movem céus e terra para se encontrar. E cada um desses encontros termina em discussão, briga, desentendimento.
Sei que seu amor surgiu numa grande cidade, um encontro bonito, especial. Apaixonados, foram apartados: um pra lá, outro pra cá. Enquanto passa a semana contentam-se com o que há: amigos, trabalho, alguns programas quase solteiros. Ao mesmo tempo conversam, mandam torpedos, escrevem e-mails, imaginam como seria bom estarem juntos. Ele lá, ela cá. Ela lá, ele cá. Dois mundos, dois pontos de vista, tantos sonhos.
Para uni-los, não bastam os interurbanos. Desejo pede beijo, abraço, sexo. Quer conversas, companhia, passeios. Tem sede de (re)viver de novo tudo de bom que já existiu. Haja dinheiro: por ar e por terra, a saudade pede passagem.
E no encontro sobra desentendimento. Frases ressoam quando escuto a história: amor dá trabalho; tentar reviver o que já passou. Cartografias de mim enquanto olho pro outro. A velha angústia do desencontro no encontro.

Dedilhar a morte

Na ponta dos dedos, eletricidade. Vontade de parar, num dia claro de sol extremo. Cessar, deixar de existir. Sem contas, sem luta, sem drama – morrer e só. Só morrer. Deixar esta existência, as dores, os sorrisos, os amigos, a família. Tudo isso até seria fácil. Duro imaginar quem iria cuidar do quarteto felino.
Em seus dengos, carinhos e ronronados me enrolo à vida. Esta vida sem gosto que teima em me habitar. Esperança, esperança. som e fúria. novos caminhos?

Pra Fal

Ela faz curso de História da Arte, junta gente que é uma lindura.
E escreve com gosto, escreve divertido, escreve bem que ela só. Me faz chorar a danada, dispara uma emoção funda, sentida. Eu só conheço a Fal do Flickr. Eu só converso com a Fal por e-mail ou nos comentários (pouquíssimos). E eu leio a Fal. É meu refúgio sorriso-gargalhada-emoção. Gente de verdade, sabe como é? Uma mulher que inspira, expira e faz o mundo como dá: no meio do pânico, do vazio, do escuro, lá está ela, escrevendo Duas Malas no iTodas. Ah, exemplo! Fal, você é um exemplo! Podem dizer o que quiserem: que teu blogroll é gigante (e eu não tô lá), que teu estilo é miguxo (não é messs), que … você é maravilhosa, beibe.

O segredo da beringela

Lá pelo fim de outubro, PP me pediu uma receita de beringela… Além do escabeche básico que faço há milênios, com tomate, azeite e manjericão, achei uma outra receita na internet. Ela testou e aprovou – para completar, descobriu o segredo deste vegetal violáceo: a água.
Tempere a água com tudo o que puder: vinagre, sal, ervas compatíveis. Aquela água perfumada garante a graça da receita. De resto manda ver como está aí em cima: misture com tomate azeite e manjericão.

Curiosidade

Em 2004, a União gastou R$ 91,4 milhões com “Cópias e Reproduções de Documentos”. O valor é superior a todos os dispêndios com o programa de “Reaparelhamento e Adequação da Marinha do Brasil” (R$ 75,1 milhões).
Fonte: Contas abertas
Vamos nadar num mar de xerox! Em vez de educação, cópia. Quer saúde? Leva xerox da receita. Copiemos sem dó! Vale a pena. Melhor isso que navios para patrulhar águas, levar remédio ao fundão da Amazônia. Temos espírito destruidor e nada sobreviverá: árvore, água, gente. Enquanto isso, o País enche os pulmões e canta, deitado eternamente em berço esplêndido.