Semeando estrelas

semeador de estrelas diaO “Semeador de Estrelas” é uma estátua que está em Kaunas, Lituânia.

Durante o dia pode até passar despercebida, como mostra a foto.

Um bronze a mais, herança da época soviética.

Mas quando a noite chega, a estátua justifica seu título.

semeador de estrelas noite

Recebido por e-mail da queridona Sueli.

1988: um post memória

disparado por Tucori
Lucia Freitas

Quando 1988 começou eu era filha de santo, frequentava uma casa de umbanda e achava que tinha que “me purificar” e parar de ser doida. Aos 23 parecia que a vida era comprida e duraria para sempre. Tudo começou num “trabalho” na Praia Grande, lotada de gente, de trabalhos, de congestionamento. Foi o ano em que resolvi terminar a tal da faculdade, que tinha “largado” por conta do primeiro emprego, na Rádio Cultura. Sim, eu comecei como assistente de produção por lá – e também produzia o guia do ouvinte, uma revistinha com toda a programação da Cultura FM…

Enquanto eu aprendia muito sobre música erudita – honra máxima, com os maiores maestros do Brasil – e lutava para chegar na hora às aulas noturnas, no toca-fitas do fusca amarelo recorria a titãs, legião, paralamas, the cure, joy division em fitas k7 muito das bem-gravadas para driblar a encheção das 19h, que atendia pelo nome de “Hora do Brasil”.

Rabiscava poemas em cadernos que guardo até hoje. Me encantava pelos homens errados – como ainda faço hoje. Adorava o silêncio da madrugada, e isso também não mudou. Era hora de fazer tec-tec-tec na máquina de escrever eletrônica da IBM… como é que a família conseguia dormir? Fumava, tomava café e ia até o meio da madruga enchendo folhas e folhas de hai-kais, poemas e muitos desabafos. 😀

A vida parecia não ter limites. Até que outubro ou novembro chegou. Uma noite – acho que foi quase exatamente há 20 anos, tipo dia 22 de outubro, aniversário de uma certa prima -, rolou um mega estresse e meus pais se separaram. Aquele deus-nos-acuda de gritos, berros, brigas. Não conto os detalhes, mas foi feio, feio.

88 foi ano de conhecer a Yara. Foi ano de me formar na faculdade e conseguir o tal do MTB, o registro de jornalista profissional. De não ter limite algum. De jogar muito I Ching. De deixar de lado o terreiro de umbanda e tentar “voltar à casa”. De colocar um pé no dark, outro no punk e curtir muito beber, dançar, enlouquecer.

Foi ano de constituição novinha em folha para o Brasil. Tempo de colecionar LPs. Tempo de ensaiar vôo solo para encarar de frente som e fúria, separação e loucura – perder o pé total. E publicar um pequeno poema concreto em alguma coletânea. Tempo…

Lembrete

As coisas nos atravessam. Também nos encontros não existe os inteiros. Como somos canais, somos banhados pelas palavras, imagens, fluxos – do capitalismo, informação, atmosfera, etc. Nós temos a capacidade de retenção e elaboração de forma de uma maneira infinitamente mais rica que qualquer primata. Isso quer dizer forma é função.

foto do Flickr do Bet0

Sensibilidade

Ao longo dos anos aprendi a aprender: ver e ouvir, tatear minhas medidas, viver meus mutantes tamanhos, pressentir meus movimentos mais profundos, navegar minhas próprias ondas.
E, finalmente, pude fazer, cada vez mais, os tais bons encontros. Nos bits, nas carnes, nos textos. Hoje ganhei um arranhão e um presente. Veio de uma gata selvagem que costuma fazê-lo – e por quem, pasma, descubro sentir compaixão, ternura, amizade. O carinho veio de um sorriso que só conheço na web e que reconhece, sem medo e de coração aberto, meu esforço para criar um outro lugar de comunicar. E este simples elogio, que reconhece minha intenção primeira – ativar emoções e mentes, avivar o leitor, acordá-lo para o vivo em si – pesca dentro de mim novas realidades.
De que serve sensibilidade diante dos brutos? A brutalidade, meus caros e caras, se disfarça em atitudes gentis e educadas, em namastês à frente do coração e em dedos que apontam erros.
Não há juízo de valor aqui, entendam. A brutalidade tem a sua função na vida – caso contrário, tenho certeza, não existiria. Ela faz par com o belo e o doce, compaixão e ternura.
E ao encerrar o dia, me satisfaço com realizações e erros. Viva!