Estendida, a carne, que um dia foi “minha”, fria, fria fria.
A mesma que me ensinou a fazer nhoque, massa de torta.
A mesma que me deu milhares de fotonovelas absolutamente impróprias para a minha idade.
A mesma que me ajudou a caminhar, a estudar.
Aquela que sonhou que eu ia ser grande… casar, ter filhos (morreu sem isso, pecado)
Aquela carne que me deu abrigo no meio da tormenta, que me confortou quando os monstros entravam embaixo da minha cama, pela janela.
Os olhos azuis, azuis, fechados, já não vêm o meu sorriso – nem as minhas lágrimas
As mãos que fizeram aventais da pré-escola, tapetes de crochê e pegadores de panela se cruzaram, com o terço bonito sobre elas.
Foram as mesmas mãos que plantaram a flor de maio que está na varanda.
As mesmas que alisaram os meus cabelos. Elas mesmas.
As mesmas mãos que trocaram fraldas de duas gerações, que cuidavam de cachorros, gatos e plantas. Aqueles olhos que adoravam novelas – qualquer uma.
Adeus olhos. Adeus mãos. Alô tristeza.