loco coltrane habla – por e-mail

O que seria del mundo sin los malacos y sus chapeles, muchacha ? Sin cartola, el Chapelero Loco seria confundido com un simples pedinte por las calles suburbanas, tiendo la cabeza cortada por Lewis Caroll en persona. Si, puede crer, muchacha. Despruovido de su quepe, Zé del Boné seria condenado a la terrible y hediounda sobriedad, recusando toda y qualquier oferta de cerveza preta que lhe fosse feita por alguna alma caridosita. Se lhes arrancassem fuera los chapeles, mi pequeña, los cangaceros del Lampión acabariam cantando “s´eu pudesse eu matarra mil purque sô cabra homi“, el funk del Jeremias Mucho Loco. Todo hombre que usa un chapéu tiene el sacrossanto derecho assegurado de abusar de el portuñol savage para su mejor comodidade, compriendes usted ? El mundo es una cabezita chata, muchacha. Esto és o que yo, Loco Coltrane, tieno a lle decer por hoy

1988: um post memória

disparado por Tucori
Lucia Freitas

Quando 1988 começou eu era filha de santo, frequentava uma casa de umbanda e achava que tinha que “me purificar” e parar de ser doida. Aos 23 parecia que a vida era comprida e duraria para sempre. Tudo começou num “trabalho” na Praia Grande, lotada de gente, de trabalhos, de congestionamento. Foi o ano em que resolvi terminar a tal da faculdade, que tinha “largado” por conta do primeiro emprego, na Rádio Cultura. Sim, eu comecei como assistente de produção por lá – e também produzia o guia do ouvinte, uma revistinha com toda a programação da Cultura FM…

Enquanto eu aprendia muito sobre música erudita – honra máxima, com os maiores maestros do Brasil – e lutava para chegar na hora às aulas noturnas, no toca-fitas do fusca amarelo recorria a titãs, legião, paralamas, the cure, joy division em fitas k7 muito das bem-gravadas para driblar a encheção das 19h, que atendia pelo nome de “Hora do Brasil”.

Rabiscava poemas em cadernos que guardo até hoje. Me encantava pelos homens errados – como ainda faço hoje. Adorava o silêncio da madrugada, e isso também não mudou. Era hora de fazer tec-tec-tec na máquina de escrever eletrônica da IBM… como é que a família conseguia dormir? Fumava, tomava café e ia até o meio da madruga enchendo folhas e folhas de hai-kais, poemas e muitos desabafos. 😀

A vida parecia não ter limites. Até que outubro ou novembro chegou. Uma noite – acho que foi quase exatamente há 20 anos, tipo dia 22 de outubro, aniversário de uma certa prima -, rolou um mega estresse e meus pais se separaram. Aquele deus-nos-acuda de gritos, berros, brigas. Não conto os detalhes, mas foi feio, feio.

88 foi ano de conhecer a Yara. Foi ano de me formar na faculdade e conseguir o tal do MTB, o registro de jornalista profissional. De não ter limite algum. De jogar muito I Ching. De deixar de lado o terreiro de umbanda e tentar “voltar à casa”. De colocar um pé no dark, outro no punk e curtir muito beber, dançar, enlouquecer.

Foi ano de constituição novinha em folha para o Brasil. Tempo de colecionar LPs. Tempo de ensaiar vôo solo para encarar de frente som e fúria, separação e loucura – perder o pé total. E publicar um pequeno poema concreto em alguma coletânea. Tempo…

direto dos embalos da madrugada

trecho-treco
Chega a hora de ir dormir. Dia cheio, marcado por visitas. Finalmente conheci o Gerson Ramos, que era um ícone, e no fim da tarde Trecker, ele mesmo também visitou o albergue, com direito a uso ilimitado da conexão mixa (de sempre) do Virtua.

Escrevi um tanto, conversei muito e produzi… Dá satisfação chegar ao fim do dia assim, carregada de tarefas completas. Tá nem tanto… esqueci da janta, embalada nas conversas, nos projetos, na escrevinhação, nas janelinhas que pulam no IM…

Preciso cuidar disso. apesar de esquecer de comer com a maior facilidade (eu tenho preguiça, sério), eu estou abaixo do peso mínimo para a minha altura. resultado: IMC=18… não pode, não pode… Estou aqui esmiuçando a história da comida na minha vida, do alto destes bons 43 anos. E sei que tem a ver com solidão – esta minha solidão povoada na web, cheia de conexões.

Agora que a tempestade passou, é hora de fazer a lição de casa do meu homeopata: fazer companhia à minha solidão. Isso significa, meus anjos, que haverá um pouco mais de lufreitas por aqui, podem crer.

(e repita comigo: eu não vou chorar, eu não vou chorar, eu não vou chorar…)

Carinho

O que resta é a alegria da lembrança. Agradeço a TODOS os que me cuidaram e amaram. Principalmente os silenciosos ou PVTs…

foto do Manoel Netto, em algum momento de 2007.