Ainda o Amor

Antonia e Luigi disparam a vontade de de encontrar um caminho.
Fico meio sem chão: uma parte voa, outra fica. Ulilope, Penesses… híbridos surgem
No meio da luta pela sobrevivência, a questão amorosa é uma questão sensível. Máquina celibatária concreta, me vejo relendo a tese da Marga, o texto da Sueli no Micropolíticas. Em busca de respostas prontas para algo que só eu posso fazer. É o meu processo, a minha busca. Como ir se não tenho como manter meu chão, meu teto? Movimento complexo.
Na primeira semana depois do encontro, ficou a vontade de outro bom encontro amoroso. Bom no sentido de disparador, rizomático – a deliciosa catapulta que me faz visitar céus e infernos, descobrir novos horizontes, visitar outras paisagens e armar minha rede na varanda da casa alheia. Revisitar, aterrorizada, as velhas formas cristalizadas de me relacionar.
Desejo sutil, potente e eletrizante de experimentar de novo o tal do amor.E na experiência, aprender novas regulagens, outras modulações. Não tenho coragem! As oportunidades batem na minha porta e eu posso vê-las, senti-las, afetar-me. Não tenho coragem. Também não tenho medo. Fico achando que não quero, ainda não chegou a hora. Vejo, muito perto, a possibilidade de ser capturada pela velha balela da alma gêmea.
No instante seguinte ao nosso encontro, sentei e revisei o texto que escrevi para encerrar um grande amor. Reescrevi, mudei sutilezas. Quero dividi-lo? Publicá-lo? Não sei, não sei. Quero rever, sim. Só o texto. Nem pensar em chegar perto daquele homem que despertou tanto! A tranquilidade emana da distância. Aqui, fora da roda viva e dos afetos que o amor dispara em mim, posso me sentar e apreciar a paisagem, regular os fluxos, escolher os caminhos. Quero isso num encontro. Quero aquilo num encontro. Quero tanto no (e do) encontro – e acabo de mãos vazias.
Volto a fechar o diafragma, proteção instintiva e pronta contra todos os males. O amor é um mal?

SE VOCÊ VOLTAR(Letra: Ângela Rô Rô/ Antonio Adolfo)
O amor é bom e ruim
O amor costuma ser mesmo assim
São as penas que ajudam também
A voar para o além

Mas se você voltar e me ajudar a conhecer
Aquele fogo brando do amor
Que nós deixamos morrer
Se você voltar e me ajudar a conseguir
A luz que guiará nossos axés até se ir

Quem é forte e nega seu próprio amor
É tão fraco que não suportou a dor
É melhor se perder prá depois reviver todo um bem

Mas ser você voltar e ensinar a essa gente
Que mais vale um amor mesmo que seja
Assim tão quente, ao ponto de queimar
O coração e a nossa mente que ser feliz
É só não desistir tão facilmente

Shape of my heart

Ela caminha para encontrar a resposta
A geometria sagrada da sorte
As leis ocultas de um provável resultado. Tudo está aqui pra dançar.
Ela sabe coisas, muitas coisas, aprende e aprende e quer cada vez mais.
E seu coração ganha forma, aprende, ganha forma, dança, aprende e ganha mais forma.
E a dor, oculta na experiência e no presente, teima em voltar a visitar.

Setenta!!!


Fazer 70. Emocionar-se com as presenças. Dar primeiro pedaço de bolo pra filha mais velha. Foi ele quem ensinou a gostar de poesia, sonhar com arte, ouvir música “clássica”, que eu chamo de erudita.
Foi ele quem deu bronca, passou carão na frente do namorado, socorreu acidentes, ensinou a dirigir.
Foi ele quem fez meu álbum de bebê.
Comemorar com Quintana parece adequado.

Hai-Kai de Outono
Uma borboleta amarela?
Ou uma folha seca
Que se desprendeu e não quis tombar?


O VERSO
O verso é um doido cantando sozinho.
Seu assunto é o caminho. E nada mais!
O caminho ele próprio inventa…

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Rosas em disparada

No dia dos atentados em Londres, outras imagens precisam estar no ar.

Eugênia começou a brincadeira, com as rosas brancas: “Rosas Brancas, rosas da paz, da harmonia e do equilíbrio. Que tudo na nossa vida possa ser um caminho de bênçãos e de paz
Rosas, rosas e rosas. Os espinhos picam, mas o perfume fica.”

Seu amigo Sergio Condé deu o troco:

A verdade do que sou

Sob o olhar do outro vou além do limite da minha alma
Que impotente, me vê distanciar
Num arroubo de força e farsa.
Partindo-me aos pedaços, tornando-me incoerente.
Ao preço de uma ilusória imagem
Que apenas me leva pra longe
Da casa onde o Eu é filho,
Da casa onde Ele é Pai

Saudoso de mim retorno da farsa que deixo morta
E desperto para a força mansa
Verdade do simples ser
Fluindo e autentificando
A cada gesto encontrando
Um gosto de coração

Não luto pra ter amor
Não peço pra ter paixão
Não faço da vida um medo
Não culpo o meu irmão
Na falta do seu olhar

Aceito a solidão
Se nela eu me encontrar
No foco do meu olhar
Somente me vendo pequeno
Eu posso me entregar.

A verdade do que eu sou
Me espera nos bastidores
Ela passa pela dor
Ela passa pela mágoa
Ela passa pela ilusão
E mergulha na minha água
Desmancha a minha pedra
Acende o meu foguete
Explode meu ego triste
No céu da imensidão

Foi feito de impressões
Aquilo que eu não sou

A verdade do que eu sou
Me espera nas entrelinhas
Ela chega de mansinho
No silêncio, num cantinho
Numa criança sentida
Num sem querer porque
De repente, sem esforço
Vem num gesto de carinho
Comungando a vida sente
Sem ontem nem amanhã

A verdade do que eu sou
Me foge por entre os dedos
Assim que eu quero pegar
É como um sopro de vida
Morando no olhar que ama.
Dormindo no colo quente
Dizendo o que ela sente
Gerando o inesperado
Brincando de ser presente.

, Pessoa

Reencontro com Bernardo Soares me traz um pedaço de mim. Que susto ser tão parecida com Fernando Pessoa!!!
Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir – é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi vida perdida.
Apagar tudo do quadro de um dia para outro, ser novo com cada madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção – isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.
Esta madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelecendo para branco quente pousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente. Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser. Amanhã o que for será outra coisa, e o que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão.