Secou…


Photo by Ivars Krutainis on Unsplash

A sensação de uma fonte que já não produz mais. O conteúdo, que sempre me deu tanto prazer, parece ser fardo.

ainda abas

ainda curiosidade

ainda sede

ainda fome

enquanto a superfície está parada

dentro há turbilhões, andanças, pesquisas

nariz, olhos e boca às vezes viram para fora

a fome está aqui, não há alimento.

testando o Gutenberg

Gutenberg inventou a prensa móvel (Movable Type, em inglês, um CMS que já foi muito popular nos blogs) e transformou o conhecimento e a circulação de informação. Isso foi lá no final da Idade Média – e provavelmente desencadeou todas as transformações que a história registrou.

Agora este é o nome do novo editor do WordPress. Funciona quase como o antigo, mas tem novas funções e jeito, gosto e funcionalidades da internet mais madura.

Claro que cachorro velho desconfia de truque novo. Mas parece que esse novo jeito de produzir conteúdo será mais interessante e permitirá construir sites de um jeito mais fácil.

Então cá estou eu tentando usar, pensar como usar, depois de ler e escrever sobre ele.

Looks good. Feels good. Ainda há de dar trabalho pra fazer o que a gente deseja 🙂


o que fazer? pra onde ir?

uma dúvida. duas dúvidas. três dúvidas.

um caminhão de perguntas acumuladas, sem respostas.

a internet e o digital já não são refúgio, nem provêm esperança.

interligados e conectados, estamos quase todos online.

a informação, na era da desinformação, está relativamente livre, relativamente acessível, enterrada sob uma montanha de ruídos. Quanto mais canais, mais confusão?

e soma-se à pilha uma nova pergunta.

não sei se escolho responder às perguntas.

preciso encontrar um novo e outro sustento, me dizem as entranhas.

num insight precioso antes de dormir, entendi que vivo como se não precisasse trabalhar – enquanto preciso desesperadamente do trabalho para seguir em frente.

sem aposentadoria possível. sem herança. sem dinheiro suficiente.

foram assim os últimos anos. assustadoramente difíceis. facilmente travados por conta da contradição.

a deusa protege a informação – e eu tenho certeza que os registros são pessoais, escondidos.

não são, estão públicos.

até que não exista mais dinheiro para o servidor, para o registro do domínio, para a manutenção.

como se manterá a memória sem dinheiro? após tudo?

Melancolia com raiva

Hoje usei um pedaço da dança maori pra espantar a raiva.

No lugar entrou uma enorme e comovente melancolia.

Saudades de comunidade de blogs.

Saudades do tempo em que a gente tinha uma tabela de preços para publieditorial.

Houve, uma vez, um mercado cheio de conteúdo no Brasil. Ele ainda existe, de outro jeito, no YouTube. Os blogs que eram “companheiros” em 2008 duas alternativas: ou se transformaram em portais com milhões de visitas/dia e um esquema muito parecido com os das redações ou morreram.

A lista de links quebrados em sites só aumenta. E com ela a minha melancolia.

a tragédia do dente perdido

Começou com uma dor de dente. Achei dentista possível (ô serviço caro).

Veio o orçamento que destruiu todos os planos de sucesso nas finanças. Junto com isso instalou-se o cansaço de lutar e perder. Sempre.

Derrotada, suportei o barulho horrendo do motor, a anestesia chata, os cutucões em partes que nunca imaginamos existirem. Estóica. Sobrevivi com um curativo.

E, no dia seguinte, o dente quebrou. Em pleno carnaval. Sem socorro possível. De novo a estóica veio dar na existência. Comidas molinhas, mastigar do outro lado, cuidado pra escovar direito e não arrancar o pedaço quebrado.

Ao voltar à cadeira da dentista, o fato do dente quebrado – e perdido. O primeiro – sisos nunca contam. A tristeza de olhar pra si e saber que não tem mais forças pra lutar e fazer dinheiro. Desistência. Saudades de um tempo em que havia socorro possível. Vontade de sumir, morrer. O desejo de outra existência. O medo de morrer. A paranóia modo intenso tomando conta e a sujeita rendida.

As lágrimas foram a única reação possível. Muitas, grossas, embaladas por soluços e mais tristeza.

Haja paciência e auto-estima. Haja vontade de viver. Porque se saí de um certo buraco, não há de ser este que irá me levar. É mais um caldo. Meio sufocada, saio do mar cambaleante, pernas fracas, com cãimbras. Viva.

Hei de sobreviver.