Jogo de gente grande


Regina Favre é frequentadora do blog – e inspira do título à última linha. Sou fã e usuária! Diz a legenda do GNT filósofa e terapeuta… HA! Quem conhece, sabe, ela é mais que isso: professora de mão cheia. Pegou um trem difícil de explicar, chamado pensamento formativo, foi conversar com a Marília Gabriela – e deu um show. Teve Nietzche e o seu Amor Fati, todos os conceitos que estudamos, mais aquelas falas muito especiais nas quais ela é mestra. “Somos corpos, (…)corpos que afetam, corpos que sonham, corpos que modelam comportamentos(…)”; “Sou portador de vida, sou responsável pela manifestação da biodiversidade física e subjetiva”; “Gosto de ser minoria, trabalho com grupos pequenos”. Isso sem falar no nosso bordão: “menos é mais”.
Vai ao ar de novo a semana inteira, só para assinantes NET/Sky:
Seg 25/09 03:30h
Ter 26/09 22:30h
Qua 27/09 04:00h
Qua 27/09 10:00h
Sex 29/09 14:30h
Eu, que perdi a abertura, vou sair correndo do Palas na terça-feira!

Inédito 2 – Jornal do Extra

Tem um certo tipo de matéria que adoro escrever: sobre bebês. Detesto, no entano, a mania internacional da imprensa tratar mães e leitores como idiotas. Tudo tem que ser simples, fácil, bem básico. Resultado: você transmite informações que beiram a imbecilidade, infantiliza o tema.
Desenvolvimento de criança é coisa séria, seríissima. Magnífico, cheio de graça, ligado à história da vida no planeta, ele inspira, lembra histórias, me enche de esperança frente às mazelas naturais da luta pela sobrevivência.
Pra ganhar dinheiro acabo escrevendo matérias como esta aí embaixo

Um mundo de sensações

Como o bebê vê? O que ele sente dentro do útero? Como aprende? Aquele sorriso aos dois meses foi proposital? Bebês são seres encantadores! Imitam, aprendem e nos surpreendem com a velocidade da luz.
Desde o primeiro segundo, seu filhinho escuta tudo, reconhece a mamãe pelo cheiro, emite sons, tem o tato pronto para o toque. Os sentidos servem para isso mesmo: ligam-nos ao mundo e às pessoas.
Do nascimento à idade adulta, seu bebê vai aprender muito. Ele descobre a luz ainda no útero, acostuma-se e em algum tempo sabe a diferença entre claro e escuro. E você vai estar junto nesta caminhada. Vai descobrir seu temperamento, acompanhar e promover o desenvolvimento motor (dos movimentos), cognitivo (aprender a falar, ler) e emocional. E não precisa nenhum diploma. Atitudes simples e muito carinho dão conta do recado – e fazem maravilhas.

Cada fase, um brinquedo

Como o bebê se desenvolve e o que os pais podem fazer

Na gravidez
O que acontece?
Desde o início, os sentidos vão sendo “construídos” junto com o bebê. O tato é o primeiro a aparecer, seguido pelo paladar, olfato e audição. O último a ficar “pronto” é a visão.
Por volta do sexto mês, ele já pode tossir e soluçar. Escuta o tempo todo o do coração e o sistema digestivo da mamãe. Vozes, música e conversas também estão no útero, mas de um jeito diferente, porque o bebê está no líquido. No sétimo mês, olhos estão prontos para ver. Mas ele só percebe uma luminosidade sutil, lilás. Por volta do oitavo mês, já sabe a diferença entre claro e escuro.

O que fazer?
Nas últimas seis semanas é bom ler em voz alta para o bebê. Escolha uma história infantil – ela será a preferida do seu filho depois.
Eles podem escutar sua música preferida junto com você.

Nasceu!
O que acontece?
Todos os sentidos estão prontos para ganhar o mundo – e ajudar o bebê a descobrir o que o cerca. Sente gosto, cheiros, toque, frio, calor e escuta muito bem. Mesmo assim paladar, tato e visão ainda têm muito para amadurecer. Seu bebê só consegue ver objetos próximos – a distância é o rosto da mamãe quando está mamando. Cores, só depois dos 4 meses. Eles preferem sons agudos e não conhecem o sabor salgado.

O que fazer?
Os pequeninos são fascinados por rostos humanos. Olhe e converse com o bebê quando ele estiver acordado. O ideal é manter o rosto perto e exagerar expressões e sorrisos.
Eles adoram brinquedos coloridos nas cores primárias – vermelho, azul e amarelo. E conseguem acompanhar com os olhos.

6 meses
O que acontece?
Eles crescem e aprendem rápido! Já conseguem ficar sentados sem apoio, rolar e ganham a noção de permanência. Adoram ser tocados, ficar soltos num cobertor no chão e usar os brinquedos que o cercam. No próximo semestre vão aprender a engatinhar, ficar de pé. Adoram ‘cantarolar’ vogais e batem longos papos.
O que fazer?
O principal é fazer companhia. Quando ele estiver acordado, converse e reaja às expressões faciais do seu bebê. É vital dar estímulo, na forma de coisas para olhar, sons e formas e texturas para explorar.
Ele vai adorar brincar de “Cuca, achou”.
Deixe o bebê num cobertor, livre para brincar – mas sempre com um adulto por perto, para evitar acidentes. Nunca deixe seu bebê sozinho em lugares altos – ele pode cair.
Brinquedos: móbiles, chocalhos, brinquedos de morder, bolinhas e martelinhos macios.

1 ano
A partir do aniversário, a criança começa a observar os efeitos que provoca no ambiente que a cerca. Aprende a usar as duas mãos juntas, repete uma tentativa até conseguir o que quer. Seu vocabulário aumenta e às vezes usa a mesma palavra para muitas coisas.
O que fazer?
Sempre fale corretamente com a criança.
Fique junto durante as brincadeiras. Eles adoram argolas, cubos de montar grandes, bate-bola, brinquedos em que apertam botões e saltam peças ou abrem-se portas.
Conte histórias de livros de pano, que eles podem pegar e morder.

2 anos
O que acontece?
Ele já tem um andar mais firme e começa a dominar as palavras. Novos mundos se abrem para a criança quando ela pode andar para onde quer e falar. Começa a desenhar e pintar e demonstra preferência clara por uma das mãos para fazer isso. Neste último ano, eles desenvolveram a memória e já lembram de pessoas e coisas. Imitam e começa o processo de representação mental (fundamento para o jogo de faz-de-conta, a próxima etapa). Já consegue correr, trepar e quer fazer as coisas sozinho.
O que fazer?
Seja clara e direta nas falas: coloque o bloco em cima;
Ensinar as partes do corpo: olhos, nariz, boca, orelha
Brincar com giz de cera (tem que ser grande e atóxico)
Livros com figuras coloridas e textos divertidos
Brinquedos de empurrar, carrinhos, blocos de construção, bate-estacas, brinquedos de desmontar, túneis para passar dentro, cavalinhos, carrinho ou bicicleta sem pedal.
Brinquedos de puxar ajudam a desenvolver o equilíbrio

Para saber mais:
Brinquedoteca, um mergulho no brincar, Nylse Helena Silva Cunha, Ed. Maltese
O que esperar dos Primeiros Anos? Heidi Murkoff, Arlene Eisenberg, Sandee Hathaway, Ed. Record
Momentos Decisivos do Desenvolvimento Infantil, T. Berry Brazelton, Ed. Martins Fontes.

Espelhos da vida

Um artigo me chama a atenção: Os Ladrões da Alma. Publicado pelo site literário do Comunique-se, me lembra destes parceiros eternos, os fotógrafos. Antes mesmo de escrever, já me interessava por fotografia. Aos 12 ou 13, meu pai apareceu com uma Pentax bacana em casa. Não resisti. Esta foi a primeira câmera semi-profissional que usei na vida.
Produziu muitas fotos para o jornal da faculdade, registrou festas e comemorações, cenas simples do quintal de casa: os cachorros, eu e meus irmãos brincando, os banhos de esguicho.
Hoje uso tanto a digital quanto o meu celular para fazer as mesmas coisas. E sou amiga de alguns fotógrafos muito bacanas. Dois nomes pulam da alma: Domingues e Ricardo Giraldez. O Domingues com sua objetiva pronta pros retratos. O Rica com sua sensibilidade única para achar maravilhas onde quer que vá.
Outros queridões: o Paulo G e a Lu Prezia e suas fotos de festa. A Candy, que é um doce de pessoa. A Gabi Favre com suas viagens únicas. E o Hélio que nem sei por onde anda.
Ladrões de alma? Estão mais para espelhos da vida.

comentário em set/2008: procurei o link no comunique-se e não achei…

Nova versão

Jornalismo é assim: a gente faz, refaz e faz de novo, até o editor ficar feliz. Disseram que o texto “Minha mãe é meu melhor amigo” não contava porque o bonitón gostava da mãe. Reescrevi. Vejam no que deu.

“Minha mãe é meu melhor amigo”

“Minha mãe é meu melhor amigo”, diz hoje Eric Plank, roqueiro, 22 anos. Sim, você leu certo: ele diz melhor amigo! Este amor em forma de camaradagem começou de forma velada no campo de futebol do clube Pinheiros, em São Paulo, onde Eric jogava sob o olhar e a torcida da mãe. “Uma das regras era: ninguém xinga a mãe do goleiro – senão eu dou porrada”, lembra o rapaz. Isso ainda rende boas gargalhadas para a dupla.
Depois de vitórias, derrotas e muitas contusões, o sonho de ser jogador profissional foi “abortado”. Ele pediu e ganhou um violão. “Além de dar força para ter aulas e melhorar, sugeriu aulas de canto”, conta. Para completar, ele se interessou por filosofia. E foi ela quem indicou as leituras.
A relação de cumplicidade e carinho é extensa. Ela respeita e dá força, o que conquista o filho. “Ela nunca teve ajuda para conquistar seus sonhos. Comigo, faz parecer fácil chegar onde quero”, conta. Isso aconteceu quando entrou na faculdade de jornalismo. A segunda coisa que a mãezona fez, depois da matrícula, foi arranjar um estágio para o filhote. “Eu me desencantei e pulei fora”, lembra.
“Sei que a primeira ocupação dela é que eu tenha tudo o que é importante para ser feliz”, diz Plank. Ela ensina como brigar pelos seus pontos de vista, a não dirigir se beber, ouve as confidências amorosas, ajuda na lida com a banda, Makiavel, inspirada no autor de O Príncipe.
A última façanha da dupla dinâmica aconteceu em fevereiro. Paula doou suas milhas aéreas para Plank ir ao Rio assistir ao show dos Rolling Stones. Tudo por uma boa causa: formar um roqueiro à altura de Mick Jagger.

O tempo, o elétron e o homem

Por Lucia Freitas
(inédito, escrito para revista Estampa, abril/2005)

A Ressonância Schumann está à solta na internet. Divulgada por uma apresentação que usa um artigo de Leonardo Boff, fazia uma relação entre a modificação da tal Ressonância Schumann (de 7,83 Hz para 13 Hz) com a sensação de aceleração do tempo.
O documento explicava porque os segundos, minutos e horas do dia não bastavam para atender todos os compromissos: o dia de 24 horas, na verdade tem 16 horas. Culpa da humanidade, de seu descaso com o planeta, de uma freqüência que perdeu o pulso.
A primeira pergunta: o que é a tal ressonância Schumann? Fernanda São Sabba, pesquisadora de relâmpagos e sprites no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), explicou o que é a ressonância Schumann. Aliás, ressonâncias. São ondas como as do rádio, só que, são causadas por relâmpagos e seus altos e baixos são longos (frqüências baixas). Santa Bárbara, São Jerônimo!
A explicação para o fenômeno vem da física: a superfície da Terra é um condutor elétrico perfeito. A ionosfera, a capa que contém nosso ar, a cerca de 90 quilômetros de altura, é formada por átomos eletricamente carregados, de alta condutividade. Entre estes dois pólos, a atmosfera, que é um péssimo condutor de eletricidade. Resultado: entre as duas camadas forma-se um capacitor, lugar onde se acumulam cargas e energia elétrica. Nessa cavidade ocorrem ondas eletromagnéticas com comprimento de onda (a distância entre o cume e o vale da onda) comparável ao tamanho do planeta.
A cada cabum, os relâmpagos produzem impulsos eletromagnéticos cujas freqüências mais baixas se propagam várias vezes antes de sofrerem degradação. Quer entender melhor? Quanto mais baixa a freqüência, mais comprida a onda. As de 3 Hz têm cerca de 100 mil quilômetros. O espectro resultante da superposição dessas ondas produzidas ao redor do planeta é a ressonância de Schumann.
Descoberta por Schumann na década de 50, essa ressonância é um ruído de fundo, tem diversos modos harmônicos. O princípio é o mesmo do som. Imagine uma corda de violão. Quando ela vibra inteira, você tem o harmônico fundamental. Se apenas metade da corda vibra, o som estará num harmônico superior e assim por diante. Algumas das freqüências de Schumann são 8, 14, 20, 26, 32 e 38 Hz. Como a ressonância Schumann sempre está presente, um batimento permanente, em diversos harmônicos, os estudiosos como a dra. Fernanda o usam para mapear os relâmpagos no planeta.

Tempo, tempo, mano velho
E como essa onda pode interferir com a sensação de tempo? Para o professor Luiz Menna-Barreto, coordenador do Grupo Multidisciplinar de Cronobiologia, da USP, isso é uma mistificação. Segundo ele, o fato científico é a lentificação da rotação da terra, coisa da ordem de segundo/ano. “O que ocorre, isso sim, é que trabalhamos cada vez mais e que a informação abundante nos cria um perpétuo (e crescente) sentimento de “estou perdendo alguma coisa importante””, diz Menna.
Estudioso dos relógios e ritmos biológicos, o professor Menna explica que uma das tendências mais freqüentes na história da ciência é tentar enxergar na natureza inanimada a explicação de fenômenos biológicos. Da tese de Descartes de que os músculos seriam bombeados pelo “espírito”, um líquido bombeado pelo cérebro, às tentativas de ler pensamentos através de eletroencefalogramas, o mundo da ciência está cheio de exemplos.
Professor Menna garante: é fato que a vida na terra é marcada por freqüências, como a rotação que nos garante a variação entre dia e noite. Há estudos na França sobre as influências de campos eletromagnéticos fortes, como o que temos na Avenida Paulista, nos organismos. Com a ressonância magnética funcional já temos mapas que mostram a atividade das regiões cerebrais e sabemos como funcionam as emoções mais básicas.
O mais importante é que se descobriu que a transmissão de informação entre os neurônios se dá pela freqüência da onda e não pela sua amplitude ou fase. A cronobiologia sabe também que os organismos têm relógios biológicos. Eles adiantam, atrasam, se ajustam. “É uma forma de nos adaptarmos ao planeta e ao ambiente onde vivemos. E isso independe de ritmos ambientais”, afirma Menna-Barreto.
E para descobrir mais, Menna está promovendo uma pesquisa de cronotipos, através da página do Grupo que coordena na internet (Cronobiologia). Você preenche um formulário, depois responde às perguntas e descobre se é um ser matutino ou vespertino. Enquanto a ciência não descobre se a ressonância Schumann nos afeta, resta-nos descobrir como funcionamos e tentar evitar as armadilhas da civilização. Como diz Boff em seu artigo: “respirar junto com a Terra para conspirar com ela pela paz”.

Foto: Misterious Wave, por TW Collins no Flickr