Começou com uma dor de dente. Achei dentista possível (ô serviço caro).
Veio o orçamento que destruiu todos os planos de sucesso nas finanças. Junto com isso instalou-se o cansaço de lutar e perder. Sempre.
Derrotada, suportei o barulho horrendo do motor, a anestesia chata, os cutucões em partes que nunca imaginamos existirem. Estóica. Sobrevivi com um curativo.
E, no dia seguinte, o dente quebrou. Em pleno carnaval. Sem socorro possível. De novo a estóica veio dar na existência. Comidas molinhas, mastigar do outro lado, cuidado pra escovar direito e não arrancar o pedaço quebrado.
Ao voltar à cadeira da dentista, o fato do dente quebrado – e perdido. O primeiro – sisos nunca contam. A tristeza de olhar pra si e saber que não tem mais forças pra lutar e fazer dinheiro. Desistência. Saudades de um tempo em que havia socorro possível. Vontade de sumir, morrer. O desejo de outra existência. O medo de morrer. A paranóia modo intenso tomando conta e a sujeita rendida.
As lágrimas foram a única reação possível. Muitas, grossas, embaladas por soluços e mais tristeza.
Haja paciência e auto-estima. Haja vontade de viver. Porque se saí de um certo buraco, não há de ser este que irá me levar. É mais um caldo. Meio sufocada, saio do mar cambaleante, pernas fracas, com cãimbras. Viva.
Hei de sobreviver.