Editado por Regina Favre de Towards an Ontological Definition of Multitude, de Toni Negri
a. Pessoa é uma idéia moderna e multidão uma idéia pós-moderna
b. Multidão é um todo de “singularidades” (não podemos aceitar que singularidades sejam vistas como aprisionadas em indivíduos ou pessoas em oposição à indiferenciação abismal. Singularidades são anônimas e nômades, impessoais e pré-individuais. Gilles Deleuze na Lógica do Sentido, de 1969, citado por Regina Favre)
c. O pensamento da modernidade opera de dois lados, por um lado ele abstrai a multiplicidade de singularidades e unifica no conceito de povo, por outro lado ele dissolve o todo de singularidades que forma o todo de multidão numa massa de indivíduos.
d. A multidão é sempre produtiva e sempre em movimento e se constitui e constitui sociedade produtiva, cooperação social geral para a produção.
e. O conceito de multidão deve ser encarado diferentemente do conceito de classe operária.
f. O conceito de classe operária limita a visão de produção uma vez que essencialmente só inclui trabalhadores industriais.
g. No conceito de multidão, a noção de exploração será definida como exploração (e boicote) da cooperação entre singularidades, não entre indivíduos, exploração de redes que compõem o todo.
h. A multidão é um conceito de potência que produz por cooperação
i. Esse poder não apenas deseja expandir, mas acima de tudo deseja tomar corpo (isto significa moldar a si mesmo sempre em novos modos de funcionar em conexões presentes – Regina Favre, 2007)
j. A liberdade e a alegria bem como a crise e a fadiga na sua mudança compreendem dentro de si tanto continuidade quanto descontinuidade, sístoles e diástoles, pulsos de descomposição e recomposição de singularidades.
k. A multidão é um agente social ativo, uma multiplicidade que age, não uma unidade como o povo, que nós vemos como algo organizado. É de fato um agente ativo de auto-organização.
l. Trabalho cooperativo vivo – uma revolução real, ontológica, produtiva e política pôs de cabeça para baixo todos os parâmetros de “bom governo” e destruiu a idéia moderna de uma comunidade que serviria para a acumulação capitalística (“mas agora apenas interconexões processuais para ações criativas em direção a realidades que ainda não existem”, Regina Favre, 2007)
m. Os dispositivos para produção da subjetividade que encontram na multidão uma figura comum apresentam-se como uma práxis coletiva, sempre atividade renovada e constitutiva de ser, contra o conceito de povo.
n. As origens do discurso da multidão são encontradas na interpretação subversiva do pensamento de Spinoza. Nunca seria suficiente insistir na importância da pressuposição Spinozista quando ele lida com este tema. Antes de tudo o tema inteiramente Spinozista é o tema do corpo, particularmente do poder do corpo. “Nunca poderemos saber aquilo de que um corpo é capaz”. Então multidão é o nome da multidão de corpos. Nós lidamos com esta definição quando insistimos que multidão é potência. Entretanto, o corpo vem antes na genealogia e na tendência tanto das fases como no resultado do processo de constituição de multidão.
o. Nós devemos reconsiderar esta discussão do ponto de vista do corpo. Toda esta discussão portanto, da constituição do corpo.
p. Uma vez que nós definimos os nomes da multidão contra o conceito de povo tendo em mente que a multidão é um todo de singularidades, nós podemos traduzir este nome (multidão) na perspectiva do corpo e clarear o agenciamento da multidão de corpos. Quando consideramos corpos, não apenas percebemos que estamos cara a cara com a multidão de corpos, mas percebemos que cada corpo é uma multidão, interceptando a multidão, cruzando a multidão com a multidão, corpos se tornam misturados, híbridos, transformados, mestiços. Eles são como ondas do mar, em perene movimento e transformação recíproca.
q. A metafísica da individualidade ou da pessoa constitui uma mistificação péssima da multidão de corpos. Não há possibilidade de um corpo estar sozinho. Isso não pode nem ser imaginado. Quando um homem é definido como um indivíduo, quando ele é considerado como uma fonte autônoma de direito e propriedade ele se torna sozinha. Mas o si não existe fora de uma relação com o outro.
r. A metafísica da individualidade quando confrontada com o corpo nega a multidão que constitui o corpo para negar a multidão de corpos.
s. Do ponto de vista do corpo existe apenas relação e processo.
t. O corpo é trabalho vivo, portanto, expressão e cooperação, portanto construção material de mundo e história.
u. Nós falamos de multidão como o nome do poder (potência) e a genealogia e tendência, crise e transformação, portanto esta discussão no final leva à metamorfose dos corpos.
v. A multidão é a multidão dos corpos. Ela expressa poder não apenas como um todo mas também como singularidade.
w. Cada período da história do desenvolvimento humano (do trabalho, do poder, das necessidades e da vontade de mudar) inclui metamorfoses singulares de corpos
x. Isto é uma visão Darwinista no melhor sentido da palavra: como produto de uma visão Heracliteana portanto as causas da metamorfose que investem a multidão como um todo e singularidade como multidão não são nada mais do que lutas e movimentos e desejos de transformação.