Mulher Maravilha e o machismo nosso de todo dia

Saí da terapia e fui ao cinema (finalmente). Queria assistir Mulher Maravilha na tela grande, numa sala escura. Missão cumprida.
Todavia, entretanto, contudo…
Como é que a gente dá conta de viver num mundo de macho?
Impressionante como até quando a personagem principal é uma mulher, o tal do coadjuvante tem que ser homem.

Ela não pode ser a amazona pegadora – que é o destino de toda amazona, aliás. Tem que se apaixonar e ser uma “deusa virgem” [pra entender os arquétipos femininos, recomendo fortemente o livro As Deusas e a Mulher, de Jean Shinoda Bolen].

A heroína encarnada por Gal Gadot é êxtase e dor. Tão bom ver uma mulher chutando bundas. Tão ruim ver na tela, em todos os momentos depois que Diana chega “ao nosso mundo”, o que vivemos todas o tempo todo.

Para quem já se deu conta da extensão e profundidade do machismo, é quase doloroso ver uma deusa ser diminuída como todas nós. Ainda um objeto, um enfeite – mesmo diante de todo o seu poder, força e conhecimento.

A deusa que tem que se apaixonar e ficar uma eternidade encarniçada com um homem (quem de nós nunca, né, amoras?). A deusa que abaixa a cabeça e atende o comando do omi. Por que? Por que?

E, sim, a gente aceita o comando do omi. Seja ele Ares ou um reles mortal. Precisamos? Devemos?

Só quero ver se DC vai dar conta de sustentar a “inovação” e igualar a personagem no Liga da Justiça, previsto pro segundo semestre. Suspeito fortemente que a nossa heroína voltará ao papel reservado a todas nós: secundário, menor, um degrau a menos para Diana Prince.

O filme, como um primeiro passo, é ótimo. Pra Hollywood começar a ganhar pontinhos, tem que soltar um filme por mês com mulher protagonista – forte e poderosa, ok?

A gente sabe que não vai rolar. Até agora, na escala de empoderamento feminino, a Marvel, com Electra e Jessica Jones, tá levando vantagem. A dona Jessica dá de 20 a zero na Mulher Maravilha em termos de liberdade e igualdade.

Adorei o filme. Odeio machismo. Igualdade é fundamental. [e, sim, Diana está certa: nenhuma mulher precisa de homem pra ter prazer, desculpe mr. Freud]

Mulher Maravilha, com Gal Gadot, é um ótimo filme de heroína e ação. E precisamos de mais heroínas. Cadê manas pra construir mais mulheres fodásticas e hipnóticas como Diana? Precisamos.