Espelhos da vida

Um artigo me chama a atenção: Os Ladrões da Alma. Publicado pelo site literário do Comunique-se, me lembra destes parceiros eternos, os fotógrafos. Antes mesmo de escrever, já me interessava por fotografia. Aos 12 ou 13, meu pai apareceu com uma Pentax bacana em casa. Não resisti. Esta foi a primeira câmera semi-profissional que usei na vida.
Produziu muitas fotos para o jornal da faculdade, registrou festas e comemorações, cenas simples do quintal de casa: os cachorros, eu e meus irmãos brincando, os banhos de esguicho.
Hoje uso tanto a digital quanto o meu celular para fazer as mesmas coisas. E sou amiga de alguns fotógrafos muito bacanas. Dois nomes pulam da alma: Domingues e Ricardo Giraldez. O Domingues com sua objetiva pronta pros retratos. O Rica com sua sensibilidade única para achar maravilhas onde quer que vá.
Outros queridões: o Paulo G e a Lu Prezia e suas fotos de festa. A Candy, que é um doce de pessoa. A Gabi Favre com suas viagens únicas. E o Hélio que nem sei por onde anda.
Ladrões de alma? Estão mais para espelhos da vida.

comentário em set/2008: procurei o link no comunique-se e não achei…

Nova versão

Jornalismo é assim: a gente faz, refaz e faz de novo, até o editor ficar feliz. Disseram que o texto “Minha mãe é meu melhor amigo” não contava porque o bonitón gostava da mãe. Reescrevi. Vejam no que deu.

“Minha mãe é meu melhor amigo”

“Minha mãe é meu melhor amigo”, diz hoje Eric Plank, roqueiro, 22 anos. Sim, você leu certo: ele diz melhor amigo! Este amor em forma de camaradagem começou de forma velada no campo de futebol do clube Pinheiros, em São Paulo, onde Eric jogava sob o olhar e a torcida da mãe. “Uma das regras era: ninguém xinga a mãe do goleiro – senão eu dou porrada”, lembra o rapaz. Isso ainda rende boas gargalhadas para a dupla.
Depois de vitórias, derrotas e muitas contusões, o sonho de ser jogador profissional foi “abortado”. Ele pediu e ganhou um violão. “Além de dar força para ter aulas e melhorar, sugeriu aulas de canto”, conta. Para completar, ele se interessou por filosofia. E foi ela quem indicou as leituras.
A relação de cumplicidade e carinho é extensa. Ela respeita e dá força, o que conquista o filho. “Ela nunca teve ajuda para conquistar seus sonhos. Comigo, faz parecer fácil chegar onde quero”, conta. Isso aconteceu quando entrou na faculdade de jornalismo. A segunda coisa que a mãezona fez, depois da matrícula, foi arranjar um estágio para o filhote. “Eu me desencantei e pulei fora”, lembra.
“Sei que a primeira ocupação dela é que eu tenha tudo o que é importante para ser feliz”, diz Plank. Ela ensina como brigar pelos seus pontos de vista, a não dirigir se beber, ouve as confidências amorosas, ajuda na lida com a banda, Makiavel, inspirada no autor de O Príncipe.
A última façanha da dupla dinâmica aconteceu em fevereiro. Paula doou suas milhas aéreas para Plank ir ao Rio assistir ao show dos Rolling Stones. Tudo por uma boa causa: formar um roqueiro à altura de Mick Jagger.

O tempo, o elétron e o homem

Por Lucia Freitas
(inédito, escrito para revista Estampa, abril/2005)

A Ressonância Schumann está à solta na internet. Divulgada por uma apresentação que usa um artigo de Leonardo Boff, fazia uma relação entre a modificação da tal Ressonância Schumann (de 7,83 Hz para 13 Hz) com a sensação de aceleração do tempo.
O documento explicava porque os segundos, minutos e horas do dia não bastavam para atender todos os compromissos: o dia de 24 horas, na verdade tem 16 horas. Culpa da humanidade, de seu descaso com o planeta, de uma freqüência que perdeu o pulso.
A primeira pergunta: o que é a tal ressonância Schumann? Fernanda São Sabba, pesquisadora de relâmpagos e sprites no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), explicou o que é a ressonância Schumann. Aliás, ressonâncias. São ondas como as do rádio, só que, são causadas por relâmpagos e seus altos e baixos são longos (frqüências baixas). Santa Bárbara, São Jerônimo!
A explicação para o fenômeno vem da física: a superfície da Terra é um condutor elétrico perfeito. A ionosfera, a capa que contém nosso ar, a cerca de 90 quilômetros de altura, é formada por átomos eletricamente carregados, de alta condutividade. Entre estes dois pólos, a atmosfera, que é um péssimo condutor de eletricidade. Resultado: entre as duas camadas forma-se um capacitor, lugar onde se acumulam cargas e energia elétrica. Nessa cavidade ocorrem ondas eletromagnéticas com comprimento de onda (a distância entre o cume e o vale da onda) comparável ao tamanho do planeta.
A cada cabum, os relâmpagos produzem impulsos eletromagnéticos cujas freqüências mais baixas se propagam várias vezes antes de sofrerem degradação. Quer entender melhor? Quanto mais baixa a freqüência, mais comprida a onda. As de 3 Hz têm cerca de 100 mil quilômetros. O espectro resultante da superposição dessas ondas produzidas ao redor do planeta é a ressonância de Schumann.
Descoberta por Schumann na década de 50, essa ressonância é um ruído de fundo, tem diversos modos harmônicos. O princípio é o mesmo do som. Imagine uma corda de violão. Quando ela vibra inteira, você tem o harmônico fundamental. Se apenas metade da corda vibra, o som estará num harmônico superior e assim por diante. Algumas das freqüências de Schumann são 8, 14, 20, 26, 32 e 38 Hz. Como a ressonância Schumann sempre está presente, um batimento permanente, em diversos harmônicos, os estudiosos como a dra. Fernanda o usam para mapear os relâmpagos no planeta.

Tempo, tempo, mano velho
E como essa onda pode interferir com a sensação de tempo? Para o professor Luiz Menna-Barreto, coordenador do Grupo Multidisciplinar de Cronobiologia, da USP, isso é uma mistificação. Segundo ele, o fato científico é a lentificação da rotação da terra, coisa da ordem de segundo/ano. “O que ocorre, isso sim, é que trabalhamos cada vez mais e que a informação abundante nos cria um perpétuo (e crescente) sentimento de “estou perdendo alguma coisa importante””, diz Menna.
Estudioso dos relógios e ritmos biológicos, o professor Menna explica que uma das tendências mais freqüentes na história da ciência é tentar enxergar na natureza inanimada a explicação de fenômenos biológicos. Da tese de Descartes de que os músculos seriam bombeados pelo “espírito”, um líquido bombeado pelo cérebro, às tentativas de ler pensamentos através de eletroencefalogramas, o mundo da ciência está cheio de exemplos.
Professor Menna garante: é fato que a vida na terra é marcada por freqüências, como a rotação que nos garante a variação entre dia e noite. Há estudos na França sobre as influências de campos eletromagnéticos fortes, como o que temos na Avenida Paulista, nos organismos. Com a ressonância magnética funcional já temos mapas que mostram a atividade das regiões cerebrais e sabemos como funcionam as emoções mais básicas.
O mais importante é que se descobriu que a transmissão de informação entre os neurônios se dá pela freqüência da onda e não pela sua amplitude ou fase. A cronobiologia sabe também que os organismos têm relógios biológicos. Eles adiantam, atrasam, se ajustam. “É uma forma de nos adaptarmos ao planeta e ao ambiente onde vivemos. E isso independe de ritmos ambientais”, afirma Menna-Barreto.
E para descobrir mais, Menna está promovendo uma pesquisa de cronotipos, através da página do Grupo que coordena na internet (Cronobiologia). Você preenche um formulário, depois responde às perguntas e descobre se é um ser matutino ou vespertino. Enquanto a ciência não descobre se a ressonância Schumann nos afeta, resta-nos descobrir como funcionamos e tentar evitar as armadilhas da civilização. Como diz Boff em seu artigo: “respirar junto com a Terra para conspirar com ela pela paz”.

Foto: Misterious Wave, por TW Collins no Flickr