Vazamentos

De repente, me sinto uma ilha. Surgiram vazamentos em todos os cantos: a máquina de lavar pratos, a geladeira e a privada estão em rebelião. AFE! Será efeito colateral do roubo? Haja paciência para aturar encanador que não aparece, técnico que não vem…

Reflexões sobre a perda

Restou o anel que nunca significou nada… o vazio tomou lugar dos armários e gavetas revirados. Num piscar de olhos, tudo ao chão e, antes do toque da meia-noite, tudo parecia em ordem. Na arrumação, alguns excessos saem. E lá estava o vazio, a falta, a perda.
Eram objetos queridos, cheios de história. Agora não mais “meus”. Falta a minha joaninha, falta o anel de árvore sefirótica, o de mandala, o de granada… os brincos vermelhos, as argolinhas de ouro que ganhei do vovô.
O ocaso de uma mulher? O nascimento de uma mulher? Restam orelhas, pescoço e dedos. Intactos, graças a deus. Restam os olhos, despidos das câmeras. O que fica carrega a história, dedilho possibilidades.
A reação? Adulta absoluta: prática, eficiente, comunicativa, informação sob medida, para quem importa. Nada é o ideal. Falta a ferramenta, falta… perdi um pedaço. Muitos pedaços.
Hora de deixar para trás o que ficou vencido, o que já foi. É preciso atualizar, fazer crescer e brotar novas partes, outras conexões. Com sorte, quando você diz “sim, eu perdi. Eu quero”, surge um novo compromisso e novos caminhos se abrem.
SIM, EU PERDI. Resta mandar para o universo o anel que não significa nada.

Um pouquim de Rilke

Rilke sempre adoça, ilumina, guia…
“Ah, contamos os anos e fazemos cortes aqui e ali e paramos e começamos e hesitamos entre essas opções. Mas quão inteiriço é tudo que nos sucede, e como tem parentesco uma coisa com outra, gerou a si mesma e cresce e é criada para se tornar ela mesma; e temos, no fundo, apenas que estar aí, mas simplesmente, mas insistentemente, tal como a Terra está aí, dizendo sim às estações, clara e escura e totalmente no espaço, não desejando repousar senão na rede de influências e forças onde as estrelas se sentem seguras.”
Rainer Maria Rilke (19 de outubro de 1907, carta para Clara Rilke) in Cartas do Poeta Sobre a Vida.